sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O ATAQUE

A cena passa-se no Golfo de Aden local bastante flagelado pela pirataria. Nós navegávamos há já dois dias em permanente tensão pois os pedidos de ajuda ás forças da coligação eram uma realidade e uma constante, o canal 16 do VHF não se calava. Os ataques eram normalmente duas ou três embarcações rápidas que se aproximavam dos navios, sempre pela retaguarda. Os relatos dos navios que tinham sido apresados eram bastante consistentes, as embarcações aproximavam-se e os assaltantes entravam a bordo dominando a tripulação com armas automáticas e RPG. Nós ouvíamos os relatos aflitivos de várias tripulações a comunicar que tinham os tais speedboats a aproximarem-se a alta velocidade.
No fim do Golfo de Aden, já á saída com as coisas a acalmarem-se começaram a aparecer no radar várias embarcações pequenas e rápidas, pusemo-nos em guarda, mangueiras a deitar água por todos os lados. Uma das embarcações ainda fez uma pequena perseguição mas desistiu rapidamente.
Mas quando estávamos a relaxar apareceu pela amura de estibordo uma embarcação, em alta velocidade que se dirigia rapidamente para o nosso navio. Corri imediatamente para o exterior da ponte, para a asa da ponte como a minha máquina fotográfica com um duplicador de modo a ficar com 600mm de lente, focagem manual.
A embarcação aproximava-se rapidamente e a adrenalina começava a subir.


De repente o speedboat, cheio de indivíduos começa a manobrar para se pôr ao nosso lado, para abordar o nosso navio as partes laterais são melhores pois são baixas. A drenalina estava ao rubro e eu fotografando.


Quando do interior da embarcação os indivíduos se levantam e começam a acenar para nós, eu pessoalmente tomei como atitude agressiva de mandar parar mas apenas pude disparar a máquina fotográfica.


De repente apercebo-me que o que eles têm na mão são apenas uns ferozes peixes que os desgraçados tinham apanhado e estavam a tentar vender.


É triste ver a decepção dos indivíduos por não terem conseguido vender o seu peixe. Os ferozes inimigos mostraram ser uns rapazolas imberbes tentando fazer mais uns cobres. Mas temos que concordar que numa zona destas cheia de piratas aproximarem-se de um navio desta maneira quem vai imaginar que estão a vender peixe?? Ninguém pára um navio numa zona de tráfego para comprar peixe.

E assim acabou um ataque de piratas ao meu navio. Hoje rimo-nos mas na altura estava tudo lívido, eu pessoalmente estava com a adrenalina no máximo, como costumo dizer, em modo de combate. Se tive medo? Claro, só os estúpidos e inconscientes não têm medo, tinha medo e sentia-me desprotegido pois se fossem mesmo piratas entrariam facilmente no navio. Detesto sentir-me desprotegido, fico bastante nervoso.

Patética expressão de alguém que sofre uma desilusão….
Jimmy the Sailor
Bordo, 22 de Outubro de 2008
Publicado no SOL na sexta-feira, 24 de Outubro de 2008 9:42

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