domingo, 11 de março de 2012

Crónicas Inglesas I

Pois... estou a trabalhar para os ingleses. Depois da venda do Galp Marine á J.H. Whitaker (Tankers) eu acompanhei o navio, provavelmente devido ao meu grande conhecimento das manhas e truques desta nave de olhos em bico (construído na China).
As minhas impressões iniciais foram boas pois as decisões durante a reparação em Lisboa eram tomadas rapidamente e sem aquele acanhamento tipicamente tuga mas verdade seja dita, não esperava milagres.

Logo á saída houve chatice, alguém se esqueceu de dar luz verde ao navio e o tal de sistema não dava autorização. O rapazinho que devia ter dado a tal luz verde já estava de fim de semana mas o português tem isso de bom, desenrasca sempre quando quer e precisa. Assim as autoridades lá nos deram o aval de saída.
E saímos para viagem já como Whithaven.
Foi uma viagem calminha, navio ainda cheio de tugas e alguns bifes (comandante, imediato e um chefe de máquinas a viajar como 2º para aprender como se mexe com isto).
E houve um tuga que desapareceu durante a viagem, fomos encontra-lo já á chegada, com uma cara amarela de tanto enjoar. Era a sua primeira travessia a sério.

E chegámos a Milford Haven onde o navio iria ficar mais uns dias para terminar umas reparações e inspecções.

Foi engraçado, as primeiras actuações no nosso equipamento foi com um certo ar de desdém de quem quer ensinar como se trabalha.... ao fim de duas tentativas ficou pior do que a reparação feita em Lisboa. E aconteceu com outra empresa e outro caso, duas tentativas e as coisas ficaram na mesma. E aqui o "Je" continuava a manter a sua "história" até eles aprenderem que burros estavam a ser eles. Engraçado, as relações melhoraram (com os reparadores).

Neste momento o navio já está todo (quase todo) "inglezado" e eu a tentar adaptar-me ás novas regras.

As piores regras que tenho de me adaptar são as relativas aos horários. Nós jantávamos ás 19:00, aqui os pequenos passaram para as 18:00. Pequeno almoço entre as 07:00 e as 07:30, substancial se necessário. Ao meio-dia sandocha que não há almoço para ninguém e depois o jantar ás 18:00. Felizmente que o cozinheiro tuga (aqui somos todos tugas) ainda cá estava e ía fazendo alguma coisa quente para o almoço.
O pior aconteceu quando chegaram os polacos que substituíram a marinhagem tuga. O cozinheiro e um marinheiro voltaram para a Tugalândia ficando cá outro pois sabia falar inglês. O que regressou não só não sabia falar inglês como nunca tinha viajado de avião, andava um bocado aterrorizado com a ideia de se perder no aeroporto sem saber a língua.
Como estava a dizer, chegaram os polacos e a hora do jantar passou para as... 17:00. Porra, eu que me deito sempre depois da meia-noite só posso dizer que ás 22:00 pareço um cão esfaimado ás voltas na cozinha á procura de um osso para roer.

Trabalho? Continua na mesma, já tive que desencravar os esgotos outra vez, esta merda não me deixa sossegado. De resto ando a acudir ás merdoncices arranjadas nas "reparações" desnecessárias feitas em Lisboa, mexeu-se em muita coisa e poucas melhoraram. Devagarinho vou lá.

Os meus colegas da Albion (acho que não estou a dizer asneira nenhuma), bem eu com os meus 56 anos sou o benjamim do grupo (os 2 outros tugas que cá continuam não contam pois em Março vão de vez), pois os meus digníssimos colegas têm de 62 para cima, aliás está tudo a chegar á reforma. Já ouvi alguém comentar que o Bob (64 anos), o 2º de Máquinas que agora está comigo, está já a pensar em não voltar.
Como são todos rapazinhos novos e de ideias frescas, com a agravante de terem navegado no mesmo navio uma década, andam agora todos chateados, a dizer que o navio não presta, pois por pura e simplesmente quererem operar este navio como se fosse o outro.
Vai haver problemas, aliás eles já começaram pois fazem ouvidos de mercador e não atendem aos conselhos, depois os equipamentos avariam.

As coisas são geridas de modo a que o navio á noite atraque no cais de Pembroke Port e aí passar a noite, o 1º comandante ia dormir a casa todos os dias. Nós tínhamos em Lisboa uma vida muito mais activa do que aqui (pelo menos até agora).


Quanto á terra não sei quase nada. Fiz uma saída em Milford Haven, fui ao Tesco (o Continente cá do sítio) e a convite do comandante fui a um pub junto ao navio beber uma "pint". Bebi uma cervejola escura, amarga mas que me soube muito bem, gostei. Só que tive que voltar para o navio pois o raio da bexiga não parava de ficar cheia só com o raio da "pint" de cerveja. Tirei alguma fotos em Milford Haven, uma delas que me enche de orgulho.
Em Pembroke fui 2 vezes a terra, Argos e Tesco. Argos é uma loja que vende essencialmente por catálogo mas que tem exposição e venda em alguns lugares, tem uma mesmo em Pembroke onde comprei um iPod. Também tirei mais umas fotos no caminho de ida e volta ao Tesco/Argos.
E não consigo descontrair lá fora, fico com a cabeça no navio. Embora agora tenha o 2º a bordo a tomar conta, foram muitos anos sozinho no navio, não consigo relaxar.


Não relaxo nem para ir atrás de nenhuma inglesa gorda que por aqui existem ás centenas.
Uma coisa as raparigas cá do burgo têm bastante desenvolvido, os peitorais. Normalmente estão dotadas de um peito generoso o que faz mal á vista e que já me tem causado quedas de tensão gravíssimas. Mas segundo me parece a xenofobia reina por estes lados. Verdade seja dita ainda não saí para lado nenhum para saber se convivem ou não, e também não tenho grande vontade de entrar num pub e estar a beber sozinho e também não sou do género de andar a meter conversa. Fico-me pelo navio, leio, fotografia e voltar a escrever umas crónicas.... ahhh e ouvir música que foi para isso que comprei o meu iPod.

Estas são as minhas impressões iniciais. Esta a minha visão da minha experiência nas terras de Sua Majestade.

Publicado no SOL no sábado, 26 de Fevereiro de 2011

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Uma gaivota disse: