domingo, 11 de março de 2012

Problemas de estrutura...

Estava num jantar de família e quando tentava explicar ao meu filho os esforços estruturais que um navio sofre contei-lhe uma história para exemplificar o fenómeno.
O caso deu-se no navio Cabo Verde, era eu já 3º maquinista e estava no meu 3º embarque.
O navio era antigo e os oficiais de mais baixa patente não tinham casa de banho individual, era comum aos 3ºs de máquinas, 3º piloto e electricista. A casa de banho tinha uma sala para duches, uma área de lavatórios e uma ou duas sanitas. O navio já tinha uns bons vinte anos e a porta da sala dos duches estava empenada há já tanto tempo que já nem puxador tinha. Sempre que se ia tomar banho, deixava-se a toalha lá fora, fechava-se a porta que devido ao empeno ficava quase um palmo aberta e tomava-se o banho. No fim bastava um empurrão e ela estava aberta. Era esse o ritual do banho, pelo menos para mim que naveguei naquele navio um total de 14 meses.
Só que naquela viagem, devido á carga que levava e ao modo como estava distribuída o navio deu um jeito especial, ou talvez um golpe de mar que o torceu, não sei bem qual a causa mas no momento em que entro todo nu no duche e fecho a porta, vejo com espanto a porta deslizar e fechar totalmente. Fechou como se fosse nova mas com a agravante que o puxador há já bastante tempo tinha desaparecido.
Com a minha calma habitual joguei com as probabilidades, alguém haveria de aparecer na casa de banho e por isso fui calmamente tomar o meu duche.
Mas não apareceu ninguém e então resolvi berrar, dar pontapés, chamar, bater com uma vassoura que lá estava e …. ninguém apareceu.
Não me apetecia estar ali fechado muito mais tempo, já estava bastante chateado com a situação e para grandes males grandes remédios, abri a vigia que dava para o convés e saltei para o exterior. Atravessei o convés, subi umas pequenas escadas e entrei no casario, num corredor que dava acesso á messe onde começavam a afluir os tripulantes para o almoço.
Fez-se um silencio pesado á medida que eu andava, todo nu, furioso e com um sabonete nas mãos. Eu via o olhar das pessoas um bocado chocadas a pensar: Coitado, pirou de vez….!
- Foi a puta da porta que se fechou e estou há uma porrada de tempo a chamar e ninguém apareceu!!! Cuspi  eu a espumar de raiva sentindo-me ridículo por estar todo nu no meio de um corredor cheio de gente.
Fui á casa de banho apanhar a toalha e fui acabar de me arranjar para o almoço. Durante uns dias o pessoal olhava para mim um bocado desconfiado. Se não tivessem encontrado a porta fechada se calhar ainda hoje pensariam que eu tinha enlouquecido.
Depois de a fúria passar fartei-me de rir com a história e sempre que a conto a acho engraçada, não me sai da cabeça a minha figura todo nu com um sabonete na mão convés fora….
Por Jimmy
Publicado no SOL na terça-feira, 26 de Maio de 2009

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