sexta-feira, 16 de maio de 2014

Acontece ás vezes.

No dia 25 de Abril de 2014, tendo o facto de se ter passado nesta data pura coincidência, desci cedo á casa da máquina para uma rápida intervenção.
No dia anterior tínhamos zarpado de Ponta Delgada rumo a Lisboa ficando a faltar duas viagens para o meu período de férias que se previa iniciar a 28 de Maio, mais uma coincidência de datas. Navegávamos há já umas horas quando ao dar a minha última volta pela instalação por volta das 23:00 noto um ruído estranho na parte de ré / EB do motor principal junto ao volante. Não descansei enquanto não descobri a origem. Apenas umas abraçadeiras que fixavam duas tubagens de drenos soltas e que provocavam o tal ruído, não era grave e poderia esperar pelo dia seguinte. Já não caí no erro de executar tarefas sozinho numa casa da máquina á noite.
No dia seguinte tomei o usual pequeno almoço ligeiro e dirigi-me á casa da máquina para fechar o ponto que tinha em aberto.
Chamei um dos ajudantes e pegando numas abraçadeiras de plástico dirigi-me á parte de ré da máquina. Chegando ao local expliquei ao ajudante o que se passava para ele poder perceber o problema causa e efeito, tinham passado por lá e não tinham reparado em nada e de seguida abaixei-me para fixar aquilo com a tal abraçadeira de plástico. Ia ser uma intervenção de recurso pois aquela área era perigosa, ao lado de um volante a rodar a 500 rpm.
Ao abaixar-me senti uma pontada dolorosa nas costas que me descia pela perna esquerda abaixo. Endireitei-me e tentei novamente mas a dor não o permitiu, dei então a abraçadeira ao ajudante para fixar os tubos com ordens de só voltar a tocar naquilo uma vez parados em porto.
Regressei ao camarote para ir á casa de banho e já não consegui sair. As dores tornaram-se incapacitantes e foi com um esforço muito grande que me arrastei para o sofá onde me deitei em posição fetal sobre a direita. Essa posição era a única que me deixava respirar sem gritar.
Passado uma hora e com um Clonix tomado as dores não diminuiam e tive de tomar a decisão de pedir ajuda o que se tornou extremamente penoso pois obrigou-me a deslizar para o chão e rastejar até ao telefone.
A partir desse momento só tenho ideia de dor, o navio tinha um rolo ligeiro que me incomodava imenso, a vibração no camarote era asfixiante e a minha posição fetal no sofá era a única que me dava um certo alívio.
No dia seguinte o comandante comunicou á companhia o meu estado, eu teria de desembarcar para pelo menos ir ao hospital. Quando as dores eram terríveis e insuportaveis pus a hipótese da evacuação mas só de imaginar o sofrimento de ir em maca até aos topos dos contentores para ser evacuado numa fracção de segundo pus essa hipótese de parte, eu nunca aguentaria estar deitado na maca de barriga para cima, vi isso quando fiz o Rx mais tarde no hospital.
Aguentei então até chegarmos a Lisboa tomando Clonix com Brufens com Ben-U-Rons, tudo o que dizia que era contra as dores só que talvez tenha espaçado demais as tomas.
Quando o navio se aproximava da barra de Lisboa e o sinal de telemóvel já era suficiente telefonei á minha mulher para me ir buscar e levar ás urgências do hospital de Cascais. Preferi esta solução para estar mais perto de casa e facilitar o apoio que a minha mulher me pudesse dar.
E assim desembarquei de urgência tendo sido operado de urgência á coluna doze dias depois, doze dias de Inferno na Terra.
Apenas a quarta vez que desembarco de um navio para ir para um hospital, a primeira em que fiquei impossibiltado de regressar ao meu navio e terminar um contracto.

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Uma gaivota disse: